Madrid, 18 de Fevereiro de 2011 – Cerca de 1.000 jovens professores universitários terão um encontro com o Santo Padre durante a Jornada Mundial da Juventude. Os professores universitários receberam este convite com grande entusiasmo. Assim o diz António Alonso, professor de relações internacionais na universidade CEU São Paulo: “Ao saber que o Papa se queria reunir connosco senti uma grande alegria e um forte desejo de ser um dos escolhidos afortunados”.
“O Santo Padre tem consciência da nossa especial missão, já que ele mesmo foi professor universitário e sabe que pelas nossas mãos passa uma boa quantidade de jovens em cada ano que se estão a encher de conhecimentos, mas também de valores”, comentou Alonso.
O encontro celebrar-se-á na Basílica do Mosteiro de El Escorial, situada nos arredores de Madrid. “Tanto a história do mosteiro como a sua realidade actual é em si mesma, uma preciosa síntese entre razão e fé. É um lugar de grande beleza artística composto por um centro universitário unido a uma comunidade religiosa, o que indica a união do estudo com a espiritualidade”, ressaltou Carla Díaz de Rivera, directora do departamento de Cultura da Jornada Mundial.
Ninguém duvida que Bento XVI é um grande apaixonado pelo mundo universitário e um grande defensor do diálogo entre a fé e a razão. Em Westminster Hall na sua visita ao Reino Unido em Setembro de 2010, Bento XVI afirmou: “a religião não representa um problema a resolver, mas um factor que contribui de forma vital para o debate público na nação. (…) A inadequação de soluções pragmáticas, a curto prazo, para os complexos problemas sociais e éticos foi ressaltada pela recente crise financeira global. (…) «cada decisão económica tem uma consequência de índole moral» ” O Santo Padre também teve encontros com pessoas do mundo académico e da cultura em Ratisbona (Alemanha) en 2006 e no Collège de los Bernardins (París) en 2008.
Sem perder o norte: o serviço à sociedade
Os desafios que um professor universitário enfrenta são numerosos. Carmen LLovet, 29 anos, professora de moda e comunicação, num centro filiado da Universidade Complutense de Madrid afirma que um dos principais desafios é motivar os alunos a formar-se para serem os melhores profissionais da sua área, com a finalidade de contribuir para a sociedade. “Perante um ambiente onde o trabalhador é só um meio para alcançar um fim económico, o católico contrasta. Não vive só para trabalhar: o seu horizonte é servir a sociedade”, ressaltou.
Carmen Llovet, à direita, com dois dos seus alunos
E os primeiros a dar o exemplo devem ser os próprios professores. Assim acredita Maria, professora da Universidade Carlos III de Madrid, que afirma que um professor católico deve notar-se não só porque “é um bom professor, que realiza um bom trabalho, mas também porque é honrado, está atento às necessidades dos seus alunos e colegas… só assim poderá reflectir Cristo.”
Muitos dos professores entrevistados sublinham que ao ler os códigos éticos das suas respectivas profissões, vêem ali abundam as virtudes cristãs: o compromisso incondicional com a verdade, a generosidade que vai mais além da justiça, a lealdade às pessoas e à palavra dada… Nesta linha Mar Cuadrado, professora na Faculdade de Ciências da Universidade de Navarra, afirmou que formar os futuros médicos em atitudes como a solidariedade ou a tenacidade é fundamental: “Por exemplo, vai-se realizar no campus da universidade Solidarium, uma feira com diferentes propostas de voluntariado para o curso académico e para o de verão. Eu incentivei os meus alunos a juntarem-se a estas iniciativas, creio que os ajudará muito no desempenho da sua profissão”.
Um milhão de desafios na moda, ciência e economia
Estar presente em todos os campos de saber, e em cada um deles oferecer uma visão cristã e mais humana é o objectivo destes jovens professores. Inês que é professora e investigadora na área da economia numa universidade pública madrilena, disse: “Penso que sempre se pode influenciar “como cristão”, através da profissionalidade. Na investigação com uma atitude de busca da verdade, apresentando um trabalho sério e rigoroso e baseado numa antropologia cristã, isto é, baseado na concepção de ‘pessoa’ e não ‘máquina’”.
Mar Cuadrado, conta o dia a dia, nas suas aulas de embriologia e anatomia: “O meu trabalho numa aula dá-me oportunidade de explicar milhares de temas relacionados com a vida desde os seus inícios. Penso que é importante que os alunos não aprendam só a teoria mas também que vejam como desde as primeiras semanas o corpo humano está formado e só lhe falta desenvolver-se. Quando vêem isto com os seus próprios olhos, em embriões reais, são os próprios alunos os que puxam o tema do aborto… e dão-se conta que é acabar com uma vida humana!”.
Além de professora na universidade, Mar faz parte de uma equipa de investigação no Centro de Investigação Médica Aplicada da Universidade de Navarra (CIMA) que se dedica a investigar terapias para melhorar a memória em pacientes com Alzheimer. “Requer dedicar muitas horas, mas quando tens em mente tantas pessoas que podes ajudar, a dedicação dá gosto!”, reconhece.
Fachada da Basílica do Mosteiro de El Escorial
Também é claro o contributo de um cristão no âmbito da moda e da beleza. Um exemplo concreto é dado por Carmen Llovet: “Os relatórios psicológicos assinalam a baixa auto-estima que as mulheres têm por reduzirem a sua beleza a um aspecto físico. Se ninguém se define exclusivamente pelo seu aspecto físico, porque é que os media o fazem?”
“O católico conhece a beleza interior, a que se refere ao mais íntimo e durável – não a tendências que passam. Tive aulas com pré-universitárias entre 14 e 16 anos onde falamos de aparentar o que não somos, de procurar imitar quem não existe (o Photoshop aplicado às imagens é um dos maiores enganos), da estética da magreza ou da moda de classe exclusiva. É necessário que nas universidades se propicie um diálogo sobre questões como estas que tanto condicionam o desenvolvimento académico e pessoal. Em Harvard já o estão a fazer, pela mão de uma conhecida marca de cuidado pessoal”, ressalta Llovet.
Em 1982, com João Paulo II
Joao Paulo II teve um encontro idêntico ao que se realizará em Madrid, na sua visita a Espanha em 1982. Ali falou a pessoas do mundo académico que “uma fé que não se faz cultura é uma fé não plenamente acolhida, não totalmente pensada, não fielmente vivida”.
Muitos universitários foram saudá-lo, e recordou-lhes que o espírito universitário, é sinónimo de abertura, busca, investigação… “Sei que na vossa generosidade juvenil, não vos satisfazem tantas coisas da nossa sociedade actual, que a desejais mais justa e solidária”.
João Paulo II animou-os a apoiarem-se no Senhor, e assim “serem capazes de enfrentar sem medo o futuro, empenhados em construir a utopia de um mundo novo, mais justo e humano”.
(JMJ)
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