KAVANÁ: (hebraico, significa "direção interior", "intenção") Ato interior de tencionar realizar um ritual ou de se concentrar na dimensão religiosa de uma oração. A literatura talmúdica questiona alguma vezes se é possível cumprir uma mitsvá sem que se tenha na verdade a intenção de fazê-lo, como, por exemplo, estar brincando com o shofar e acidentalmente fazê-lo soar em Rosh ha-Shaná. Sem kavaná, os mandamentos são atos mecânicos, são como um corpo sem alma. Por outro lado, se alguém faz a coisa certa, a intenção parece ter importância secundária, e os mandamentos devem ser cumpridos mesmo por motivos errados. A halachá estabelece que mesmo orações pronunciadas mecanicamente, sem nenhuma, ou autêntica, kavaná, não precisam ser repetidas, contanto que se compreendam basicamente suas palavras. Só os pietistas e os místicos atribuíram à interioridade importância maior que a dos atos rituais em si mesmos. Assim, os primeiros pietistas costumavam meditar durante uma hora, toda manhã antes das orações, para concentrar suas mentes em Deus. Os cabalistas viam a kavaná como o místico aspecto interior de cada oração. De fato, foi composto um livro de orações cabalístico que tinha impressa sobre cada palavra a referência à parte correspondente a ela na estrutura das sefirot, para que a mente pudesse ter consciência disso enquanto as palavras eram pronunciadas. As palavras tornavam-se assim símbolos da dimensão mística que lhes era subjacente. Essas orações místicas levavam muito mais tempo para recitar do que as orações normais, e o cabalista Shalom Sharabi fundou uma ieshivá especial onde se pronunciavam essas orações. A fórmula "leshem ichud" ("em benefício da unificação") foi introduzida pelos cabalistas e pelos seguidores do Moviemento chassídico para ser recitada antes de se realizar qualquer ritual, a fim de se ter a kavaná adequada. A esse acréscimo se opuseram alguns rabinos, alegando que se alguém não tivesse kavaná na oração, poderia recitar também esta fórmula sem pensar sobre seu significado.
(Kavana in Unterman, Alan. Dicionário judaico de lendas e tradições. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 1992)
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