De longe podia vê-lo. Após a ceia com o Mestre, a primeira
após a sua Ressurreição. Eu caminhava lentamente pela praia.
Estávamos todos reunidos, conversando. Foi Simão quem nos
convidou. Pescar! Quem poderia segurá-lo quando decidia alguma coisa? Não
somente era forte fisicamente (a pesca exige muito do corpo, bem o sabia!), mas
havia algo nele que exercia uma forte atração. Jesus nos constrangia pelas suas
atitudes a imitá-lo. Simão não. Ele era atraído pelo Mestre e nos covidava a
imitá-lo!
Todos o seguimos. Uma noite inteira! Nem um peixe ao menos
para oferecer àquele que descobrimos depois ser Jesus. Foi à ordem do Mestre
que lançamos ainda uma vez nossas redes. Cento e cinquenta e três peixes! Um
milagre! Quase impossível de arrastar as redes!
Já era de madrugada quando ceávamos. Um momento
inesquecível! O Ressuscitado entre nós!
E foi após aquele momento que o Mestre retirou-se com Simão.
Não podia ouvir-lhes as palavras. Apenas percebia. Simão, de confiante mudou
seu rosto para entristecido. Chorava. Mas não eram mais aquelas lágrimas de
arrependimento e desespero. Eram lágrimas doces. Lágrimas de amor!
Depois soube. O Mestre o chamou a cuidar de Suas ovelhas.
Falou sobre mãos atadas, cingidas. Que seria conduzido por caminhos não
inteiramente queridos.
E foi ele quem nos pastoreou docilmente durante os anos que
se seguiram à Ascensão de Jesus. Boas lembranças. Maravilhosas lembranças! Um
homem sem igual! Forte, porém terno. Firme, porém sensível. Diligente, porém compassivo!
Poderia dizer um pai?
Não saberia dizer, mas creio que no coração do Mestre havia
um lugar especial para Simão e aquele que o sucederam e o sucederão.
Posso agora avistá-lo já ao longe, bem longe. Olhos e
ouvidos atentos para perceber as palavras e gestos de Pedro!
Muitas coisas mudarão, eu sei. Muitos virão, reconheço. Mas
ele é PEDRO!
Robert Rautmann, CCJ
Este texto escrevi originalmente por ocasião da morte de João Paulo II. Mas hoje retomo-o como oferecimento à Bento XVI por ocasião do sétimo ano de seu pontificado. Com gratidão e pedindo a Deus todas as graças sobre a vida do Santo Padre.
Um comentário:
Esse é o meu texto predileto =) Lindo Robert!
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