"O justo é como árvore plantada à beira de águas correntes, perto da Fonte. Porque está plantado assim, ele dá fruto no tempo certo e suas folhas não murcham. Tudo o que faz prospera. Ele é teimosamente abençoado por Deus. A olhos vistos".

Divulgo, aqui no blog, algumas reflexões. Não são textos acabados e sempre estou aberto ao diálogo!

sábado, 12 de março de 2011

Entre a cruz e o tubo de ensaio

Marcos Lima/Gazeta do Povo / A professora de religião e história Celina Guarnieri lembra que liberdade para crítica e questionamento mostra a alunos que não há verdade absoluta
ANNA SIMAS


Em uma sala do 6.º ano (antiga 5.ª série), durante uma aula de biologia sobre a criação do universo, a professora termina de explicar a teoria do Big Bang, que diz que o universo foi criado a partir de uma grande explosão cósmica entre 10 e 20 bilhões de anos. Um aluno ergue a mão e pergunta: “Pro-fessora, mas quem fez as galáxias e tudo o que existe não foi Deus?”. A cena é frequente nas escolas, divide os professores de ciências e biologia e coloca os de religião em uma saia-justa.
A coordenadora do curso de Ciências Biológicas da Universidade Tuiuti do Paraná (UTP) e professora aposentada do ensino médio e fundamental, Rita de Cássia Dallago, conta que ao longo dos seus 26 anos de carreira percebeu que a discussão sobre a origem do universo e do homem, principalmente entre criacionismo (teoria religiosa que presume que tudo foi criado por uma força superior) e evolucionismo (teoria científica proposta por Charles Darwin que diz que o homem surgiu a partir da evolução de outras espécies) ganhou novos rumos, mas que ainda perturba os educadores. “Em geral, os professores tendem a impor o que acreditam, mas o ideal seria deixar claro sempre que existem duas correntes e não uma única verdade. O aluno tem o direito de escolher em qual prefere crer.”

Pedro Serápio/Gazeta do Povo
Pedro Serápio/Gazeta do Povo / Clarice Cavallari escolheu uma escola católica para reforçar as crenças religiosas da famíliaAmpliar imagem
Clarice Cavallari escolheu uma escola católica para reforçar as crenças religiosas da família

  • Na maioria dos casos, os professores de ciências e biologia defendem o evolucionismo, porque faz parte da formação deles, e os de religião, o criacionismo. Mas Rita diz que na última década o perfil mudou um pouco e alguns que ensinam biologia também acreditam na segunda corrente. “Já vi muito professor que explica a origem da vida sob a ótica da ciência e depois, no final da aula, diz aos alunos para não esquecer que tudo isso foi obra de Deus.”
Com um tema controverso e professores divididos, a questão que se levanta é como não confundir a cabeça dos alunos e muito menos desrespeitar suas crenças religiosas. Para o coordenador de Teologia da Ponti­fícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR), Cesar Kuzma, o caminho ideal na hora de ensinar é não tratar as duas correntes como algo isolado e independente, mas sim como complementares. “A ciência explica a origem do universo e o surgimento da espécie humana, mas é a religião que dá sentido a isso. A meu ver esta é a melhor forma de ensinar os estudantes sem criar conflito.”
Já para o filósofo Carlos Ramalhete, o papel do professor de ciências não é ensinar religião, mas deixar claro que as ciências podem mudar. “A ciência é apenas a melhor explicação até agora para os elementos nos quais Deus não pode estar. A ciência moderna, ao contrário da religião, não é e nem pode ser dogmática.”
Mas algumas vezes o conflito é inevitável, principalmente porque a escola é um espaço de convivência entre alunos de crenças diferentes. Para os educadores, é importante que seja assim porque as crianças precisam crescer em um espaço democrático. “É claro que em algum momento houve confusão, tem aluno que às vezes não aceita o que é dado em sala e sai batendo porta, mas isso é a minoria”, conta Rita.
Mais liberdade
Segundo a professora de ensino religioso e história Célia Regina Guernieri, do Colégio Imaculada Conceição, os alunos menores, geralmente entre 10 e 12 anos, tendem a querer saber a opinião pessoal do professor e levam muito em conta o que ele pensa. Os mais velhos, a partir dos 13 anos, têm uma bagagem diferente e conseguem perceber por si só que existem duas teorias distintas e que podem escolher entre uma e outra. “Hoje os estudantes são muito mais livres e críticos do que há 30 anos. Eles conseguem perceber que não há uma verdade absoluta.”
Para que uma única verdade não reine em sala de aula, o professor de Ciências Biológicas da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR) Reginaldo Rodrigues conta que nas palestras que dá aos colegas da educação básica costuma orientá-los a não impor nada nunca e nem negar a existência de Deus aos alunos, por mais que ele não acredite. “É papel dele defender a ciência, mas sabemos que cada aluno tem sua religiosidade e que é preciso que o professor saiba lidar com isso.”
Na Escola Adventista, o diretor Laureci Bueno do Canto diz que não há imposição dos conceitos, mas pais e professores sabem a posição da escola. “Nós acreditamos na Bíblia e para nós o que está lá é a verdade. O professor não precisa acreditar e defender isso como real. Mesmo que ele comente que é criacionista, vai deixar em aberto aos alunos.”
(Gazeta do Povo)

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