“Como na região não tem outro relógio de corda, as pessoas não se incomodam por este estar com horários diferentes. Elas reclamam mesmo é quando ele para”, comenta o padre Luiz Gonzaga Peres, de 49 anos, que há 11 anos vive em Morretes. O relógio, segundo ele, é quase tão tradicional quanto a igreja, que começou a ser construída em 1812. “Ele é referência de tempo para toda a cidade. É fácil de olhar, ele sempre está lá no alto”, conta a funcionária pública aposentada Roselis Araújo, de 74 anos, nascida e criada na cidade.
Guardião do tempo e responsável pelo andamento das máquinas por mais de 30 anos, o empresário Vilson Malucelli, 68 anos, deixou os relógios há seis meses, quem diria, por falta de tempo. A tarefa de manter em funcionamento o relógio para um público exigente como o de Morretes, segundo ele, é de muita responsabilidade. “Eu assumi essa função porque sou católico e gosto da igreja. Antes de mim era mais de uma pessoa que mexia e não era tão organizado.” Mesmo depois de ter repassado o posto, Malucelli, conhecido como “professor Pardal de Morretes”, continua fazendo os ajustes mais delicados e as manutenções periódicas. Até corujas e morcegos já teve de tirar das máquinas. Técnicos especializados só vieram uma vez quando a máquina parou. Isso foi há dez anos e nunca mais foi necessário esse tipo de intervenção.
O substituto
A tarefa semanal de dar corda ficou para o funcionário público aposentado Alcides Araújo Filho, de 63 anos, conhecido como Dudu. “É uma responsabilidade grande mexer com o relógio, mas aos poucos vou aprendendo”, diz.
Disposto, ele não se intimida em acordar aos sábados por volta das 7 horas e subir os cerca de 70 degraus das escadas íngremes e estreitas da torre. Com base no relógio de pulso, Dudu ajusta os ponteiros e, com a manivela na mão, conta as 15 voltas necessárias para dar corda.
Por causa da idade, os ponteiros apresentam lentidão para subir e chegar ao meio-dia, mas depois desse ponto descem mais rápido. O sino também já não badala automaticamente junto com as horas, o que deve ser arrumado no ano que vem, na comemoração dos 200 anos da paróquia, quando estão previstas reformas na igreja. Mas no relógio não se mexe. “Enquanto estiver funcionando, a gente vai levando do mesmo jeito”, diz Malucelli, que também já fez das suas experiências com os aparelhos. “Uma vez coloquei cada relógio em uma hora diferente, só para testar a atenção das pessoas. Não deu outra, a população percebeu o erro e a brincadeira logo terminou”, diverte-se.
(Gazeta do Povo)
Nenhum comentário:
Postar um comentário