"O justo é como árvore plantada à beira de águas correntes, perto da Fonte. Porque está plantado assim, ele dá fruto no tempo certo e suas folhas não murcham. Tudo o que faz prospera. Ele é teimosamente abençoado por Deus. A olhos vistos".

Divulgo, aqui no blog, algumas reflexões. Não são textos acabados e sempre estou aberto ao diálogo!

sábado, 19 de fevereiro de 2011

Lá o tempo anda diferente

Antonio More/Gazeta do Povo / Na frente da igreja, Vilson Malucelli, o padre Luiz Gonzaga Peres e Alcides Araújo Filho

Eles estão no alto da Igreja Matriz de Nossa Senhora do Porto, em Morretes. Quatro relógios de corda, um em cada face da torre, visíveis para quem estiver em qualquer ponto da cidade. À prova do tempo e de outros imprevistos, os relógios, instalados em 1935, operam juntos, só que mostram horários diferentes. Coisa de poucos minutos. É que, com os anos, as engrenagens e as peças originais ficaram desgastadas e provocaram a falta de sincronia entre os aparelhos. Mas nada que impeça os moradores de consultar as horas.
“Como na região não tem outro relógio de corda, as pessoas não se incomodam por este estar com horários diferentes. Elas reclamam mesmo é quando ele para”, comenta o padre Luiz Gonzaga Peres, de 49 anos, que há 11 anos vive em Morretes. O relógio, segundo ele, é quase tão tradicional quanto a igreja, que começou a ser construída em 1812. “Ele é referência de tempo para toda a cidade. É fácil de olhar, ele sempre está lá no alto”, conta a funcionária pública aposentada Roselis Araújo, de 74 anos, nascida e criada na cidade.
Antonio More/ Gazeta do Povo
Antonio More/ Gazeta do Povo / Malucelli passa os detalhes do funcionamento da máquina para o amigo Alcides, à esquerdaAmpliar imagem
Malucelli passa os detalhes do funcionamento da máquina para o amigo Alcides, à esquerda
Guardião do tempo e responsável pelo andamento das máquinas por mais de 30 anos, o empresário Vilson Malucelli, 68 anos, deixou os relógios há seis meses, quem diria, por falta de tempo. A tarefa de manter em funcionamento o relógio para um público exigente como o de Morretes, segundo ele, é de muita responsabilidade. “Eu assumi essa função porque sou católico e gosto da igreja. Antes de mim era mais de uma pessoa que mexia e não era tão organizado.” Mesmo depois de ter re­­passado o posto, Malucelli, conhecido como “professor Pardal de Morretes”, continua fazendo os ajustes mais delicados e as manutenções periódicas. Até corujas e morcegos já teve de tirar das máquinas. Técnicos especializados só vieram uma vez quando a máquina parou. Isso foi há dez anos e nunca mais foi necessário esse tipo de intervenção.
O substituto
A tarefa semanal de dar corda ficou para o funcionário público aposentado Alcides Araújo Filho, de 63 anos, conhecido como Dudu. “É uma responsabilidade grande mexer com o relógio, mas aos poucos vou aprendendo”, diz.
Disposto, ele não se intimida em acordar aos sábados por volta das 7 horas e subir os cerca de 70 degraus das escadas íngremes e estreitas da torre. Com base no relógio de pulso, Dudu ajusta os ponteiros e, com a manivela na mão, conta as 15 voltas necessárias para dar corda.
Por causa da idade, os ponteiros apresentam lentidão para subir e chegar ao meio-dia, mas depois desse ponto descem mais rápido. O sino também já não badala automaticamente junto com as horas, o que deve ser arrumado no ano que vem, na comemoração dos 200 anos da paróquia, quando estão previstas reformas na igreja. Mas no relógio não se mexe. “Enqua­nto estiver funcionando, a gente vai levando do mesmo jeito”, diz Malucelli, que também já fez das suas experiências com os aparelhos. “Uma vez coloquei cada relógio em uma hora diferente, só para testar a atenção das pessoas. Não deu outra, a população percebeu o erro e a brincadeira logo terminou”, diverte-se.
(Gazeta do Povo)

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