"O justo é como árvore plantada à beira de águas correntes, perto da Fonte. Porque está plantado assim, ele dá fruto no tempo certo e suas folhas não murcham. Tudo o que faz prospera. Ele é teimosamente abençoado por Deus. A olhos vistos".

Divulgo, aqui no blog, algumas reflexões. Não são textos acabados e sempre estou aberto ao diálogo!

quinta-feira, 29 de outubro de 2015

A Comunhão Eucarística para casais recasados


O Sínodo dos Bispos para as famílias em Roma terminou. Papa Francisco pediu que fosse publicado o Relatório Final (com as propostas que os padres sinodais fizeram e, inclusive, com o número de votos de aprovação e reprovação que cada parágrafo recebeu). A partir deste Relatório e da sua participação no Sínodo o papa Francisco poderá (ou não) escrever uma Carta Apostólica, chamada Pós-sinodal. Este documento, se escrito (o que acredito que se fará), deverá estar em sintonia com o Relatório Final, ou não. Digo "ou não", pois existe liberdade total para que o papa redija conforme as suas próprias convicções. Creio, porém, que seguirá, em quase a sua totalidade, aquilo que está posto no Relatório Final.

Penso que a grande maioria dos que acompanham as notícias da Igreja já sabiam disto!

O que eu lanço aqui é a discussão a respeito do parágrafos (84-86) que trazem o tema de pessoas que, após terem se separado, contraíram novas núpcias - chamamos de casais divorciados e recasados ou casais em segunda união. Transcrevo abaixo o parágrafo 85 (ainda em italiano - logo que tivermos a tradução no site do vaticano irei fazer a edição):


"San Giovanni Paolo II ha offerto un criterio complessivo, che rimane la base per la valutazione di queste situazioni: «Sappiano i pastori che, per amore della verità, sono obbligati a ben discernere le situazioni. C’è infatti differenza tra quanti sinceramente si sono sforzati di salvare il primo matrimonio e sono stati abbandonati del tutto ingiustamente, e quanti per loro grave colpa hanno distrutto un matrimonio canonicamente valido. Ci sono infine coloro che hanno contratto una seconda unione in vista dell’educazione dei figli, e talvolta sono soggettivamente certi in coscienza che il precedente matrimonio, irreparabilmente distrutto, non era mai stato valido» (FC, 84). È quindi compito dei presbiteri accompagnare le persone interessate sulla via del discernimento secondo l’insegnamento della Chiesa e gli orientamenti del Vescovo. In questo processo sarà utile fare un esame di coscienza, tramite momenti di riflessione e di pentimento. I divorziati risposati dovrebbero chiedersi come si sono comportati verso i loro figli quando l’unione coniugale è entrata in crisi; se ci sono stati tentativi di riconciliazione; come è la situazione del partner abbandonato; quali conseguenze ha la nuova relazione sul resto della famiglia e la comunità dei fedeli; quale esempio essa offre ai giovani che si devono preparare al matrimonio. Una sincera riflessione può rafforzare la fiducia nella misericordia di Dio che non viene negata a nessuno.
Inoltre, non si può negare che in alcune circostanze «l’imputabilità e la responsabilità di un’azione possono essere sminuite o annullate» (CCC, 1735) a causa di diversi condizionamenti. Di conseguenza, il giudizio su una situazione oggettiva non deve portare ad un giudizio sulla «imputabilità soggettiva» (Pontificio Consiglio per i testi legislativi, Dichiarazione del 24 giugno 2000, 2a). In determinate circostanze le persone trovano grandi difficoltà ad agire in modo diverso. Perciò, pur sostenendo una norma generale, è necessario riconoscere che la responsabilità rispetto a determinate azioni o decisioni non è la medesima in tutti i casi. Il discernimento pastorale, pure tenendo conto della coscienza rettamente formata delle persone, deve farsi carico di queste situazioni. Anche le conseguenze degli atti compiuti non sono necessariamente le stesse in tutti i casi."

Talvez a palavra que possa fazer compreender este parágrafo é DISCERNIMENTO. Para estes casos de que estamos falando (mas também para tantas outras realidades) deve valer a compreensão do que se vive. Ou seja, quando estamos diante de pessoas concretas, com situações de vida bem particulares, não cabe ao ministro eclesiástico (nem tampouco aos leigos) de emitir um juízo prévio e generalizado sobre a situação. O que o parágrafo está chamando a atenção é o cuidado individualizado, bem como a formação correta das consciências. E, ainda, a confiança na misericórdia divina que não é negada a ninguém (NINGUÉM).

Alguns padres sinodais também comentaram esta questão. O site que recolheu algumas destas observações é o Présence (de língua francesa) e o artigo é este. Aqui resumo algumas das posições (e assim verificamos que a interpretação nem sempre é igual, inclusive para os próprios padres sinodais).

Cardeal George Pell (arcebispo australiano e Prefeito do Secretariado para a Economia):
"Este texto foi certamente mal entendido. Não vi o menor traço de uma alusão direta à comunhão, quer seja neste parágrafo ou em qualquer outro lugar do relatório". Para ele se trata de interpretações fantasiosas. Ainda, a deliberação interna entre a consciência individual e a vontade divina não poderia ser utilizada para contradizer uma verdade objetiva.

Cardeal Reinhard Marx (Presidente da Conferência Alemã dos Bispos): o relatório final é um "passo a frente" para todos os que estão preocupados com a questão dos divorciados-recasados.

Cardeal Vingt-Trois (arcebispo de Paris): o documento defende, sem equívocos, a ideia "que nenhuma regra geral possa ser aplicada em todo tempo e em todo lugar", pois as situações pessoais destes casais são únicas.

Cardeal Christoph Schonbörn (arcebispo de Viena): O Relatório não responde "sim" ou "não". A atitude pastoral deve ser de um acompanhamento através de um exercício de discernimento. Deve se julgar a responsabilidade moral do casal com delicadeza assim como as circunstância que levaram ao divórcio e nova união civil. Por isso o caminho de acesso à penitência e à comunhão podem ser muito diversos.

Cardeal Vincent Nichols (arcebispo de Westminster): Os caminhos de discernimento propostos aos divorciados-recasados auxiliam a proteger os pastores contra a tentação de aplicar muito rapidamente um curativo para estas feridas. "Esse caminho de discernimento deve ajudar os esposos a lançar um olhar novo sobre as falhas de seu casamento, com os olhos da fé e com os olhos de Deus", disse ele. Estes caminhos de discernimento deve nos levar a analisar estas situações únicas "sem prejuízos nem ideias preconcebidas".


Bom, eis aí algumas diferente interpretações. Se olharmos para a votação deste parágrafo (85), ao final do Relatório, iremos constatar que foi o que mais votos contrários teve (80).

Enfim, como já escrevi acima, será decisão do Papa Francisco escrever (ou não) um documento que poderá contemplar este tema.



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