Reproduzo aqui o interessante artigo (com este mesmo título) do Blog Praça de Sales do Filipe Domingues, baseado no blog de John Allen. A partir de seus comentários irei acrescentando nos post seguinte uma breve biografia dos papabiles com alguns comentários pertinentes.
Algum tempo atrás, o Papa Bento XVI reconheceu que, aos 85 anos de idade, já está “no último trecho da viagem” de sua vida.
Por isso, embora ele esteja com boa saúde, não é crime ou desrespeito começarmos a pensar em quem poderia ser o próximo “sucessor de Pedro”. Neste post, vamos olhar para o cenário atual de “papáveis” sem compromisso nem torcida, com a ajuda do renomado jornalista americano John Allen Jr.
Allen publicou uma lista dos nomes mais citados quando o assunto é “quem será o próximo Papa?”. O vaticanista já avisa que esses levantamentos são falíveis e, portanto, devemos levá-los em conta apenas como “aquilo que se ouviria nas mesas de jantar em Roma”. Para quem lê bem em inglês recomendo que vá ao blog de John Allen clicando aqui.
Ele fez uma espécie de consulta a observadores do Vaticano – jornalistas, diplomatas, acadêmicos, religiosos – e chegou a 12 nomes de eventuais candidatos ao papado. Entre as “possibilidades”, há um brasileiro. Mas antes de resumir a lista de Allen, cabe questionar o que se espera de um Papa?São quatro pontos principais a serem avaliados pelos cardeais num conclave:
1) A experiência pastoral e o apego ao ensinamento teológico da Igreja, isto é, a essência do que é ser o “pastor” do rebanho, afinal, antes de mais nada o Papa é um líder religioso; 2) o caráter administrativo, para saber lidar com o funcionamento do Vaticano, fazer nomeações ou, pelo menos, saber delegar; 3) o caráter político, isto é, saber mediar conflitos e, ao tomar decisões, evitar desagradar partes envolvidas; 4) avaliando o “conjunto da obra”, os cardeais devem pensar no que cada um representaria em termos de transição e evolução ante os Papas anteriores e também no contexto histórico atual.
Se você não sabe como funciona a eleição do Papa, recomendo que clique aqui. Pois bem, vamos à pesquisa de John Allen:
TRÊS FAVORITOS - Eis os “front-runners”: Cardeal Angelo Scola, Arcebispo de Milão, italiano de 70 anos; Cardeal Marc Ouellet, Prefeito da Congreação para os Bispos, canadense de 67 anos; e Cardeal Leonardo Sandri, Prefeito da Congregação para as Igrejas Orientais, argentino de 68 anos.
O Cardeal Scola é especialista em antropologia teológica e muito alinhado ao Papa Bento XVI, o que é uma qualidade. Além disso, é mais extrovertido e, segundo Allen, mais otimista. Fãs dizem que Scola mistura a autoconfiança de João Paulo II com a intelectualidade de Bento XVI. Contra Scola está o fato de ser italiano, pois alguns cardeais querem renovar. Ele também nunca ocupou um cargo no Vaticano. Além disso, representaria o segundo pontificado consecutivo de intensos ensinamentos teológicos, o que poderia ser considerado um excesso.
O Cardeal Ouellet é outro discípulo intelectual de Bento XVI. Embora seja canadense, já viveu também na Áustria, na Alemanha e na Colômbia, o que é uma qualidade, além já ter trabalhado no Vaticano e como Arcebispo de Quebec. Seria o primeiro Papa das Américas. Fãs dizem que ele é humilde e um grande professor de fé. Porém, alguns dizem que ele é parecido demais com Bento XVI.
O Cardeal Sandri tem a vantagem de ser de uma família italiana na Argentina, um país em desenvolvimento. Durante cinco anos trabalhou como sostituto no Vaticano, uma espécie de administrador-geral, função em que se saiu bem. Portanto, conhece bem o Vaticano, mas pode ter sua imagem “contaminada” por erros da gestão de que participou. Ele é teologicamente alinhado, mas moderado em questões políticas – foi diplomata nos EUA. Alguns acreditam que ele seria um ótimo Secretário de Estado, e não Papa. Além disso, seu cargo atual não é de grande destaque.
POSSIBILIDADES - Segundo Allen, estes nomes também são muito mencionados: Cardeal Péter Erdő, Arcebispo de Budapeste, húngaro de 59 anos; Cardeal Angelo Bagnasco, Arcebispo de Gênova, suíço de 69 anos; Cardeal Odilo Pedro Scherer, Arcebispo de São Paulo, brasileiro de 62 anos.
Vamos começar pelo brasileiro. O Cardeal Scherer lidera uma importante arquidiocese da América Latina, o que lhe atribui grande visibilidade. Ele tem ampla experiência em Roma, onde viveu por sete anos. Outra qualidade é o fato de ser alinhado às tradições, mas dialogar com novos movimentos. Porém, os brasileiros em geral, segundo Allen, costumam ser vistos em Roma como “caras legais”, mas não firmes o suficiente para o papado. Outra dúvida a ser levantada é se Dom Odilo vem respondendo à altura ao crescimento do pentencostalismo e do secularismo no Brasil. Contra ele pesa também o fato de ser de família alemã o que, para alguns, representaria o segundo Papa alemão consecutivo.
O Cardeal Erdő foi eleito duas vezes presidente da Conferência Episcopal Europeia, o que lhe atribui razoável vantagem porque quase metade dos cardeias é europeia. Ele também tem boas relações na África. Segundo Allen, ele é considerado tradicionalista na doutrina, mas bom em estabelecer consensos entre diferentes correntes. Contra ele pesa o fato de ser bastante jovem, o que consistiria num papado talvez longo demais. Além disso, é especialista em direito canônico, o que para alguns limita um pouco sua visão pastoral.
O Cardeal Bagnasco é visto como um líder capaz na Itália, com habilidades para lidar com questões políticas e com a mídia. Pode favorecê-lo o fato de às vezes discordar do atual Secretário de Estado, Cardeal Tarciso Bertone, pois outros cardeais enxergam muitas fraquezas em Bertone. Porém, Bagnasco é muito conhecido apenas na Itália e nunca trabalhou fora de lá, o que pode limitar sua visão de mundo e sua visibilidade.
CHUTES - John Allen menciona outros cinco nomes menos prováveis, tidos como “chutes a longa distância”: Cardeal Gianfranco Ravasi, presidente do Pontifício Conselho para a Cultura, italiano de 69 anos; Cardeal Peter Turkson, presidente do Pontifício Conselho para Justiça e Paz, ganês de 63 anos; Cardeal Robert Sarah, Presidente do Pontifício Conselho “Cor Unum”, guineense de 66 anos; Cardeal Timothy Dolan, Arcebispo de Nova York, americano de 62 anos; Arcebispo Luis Antonio Tagle, de Manilla, filipino de 54 anos.
O Cardeal Ravasi é visto como um intelectual brilhante em diversas áreas, como teologia, arte, ciências e filosofia, e atua de forma eficiente tanto no meio acadêmico quanto na imprensa popular, aproximando-se dos não católicos. É considerado gentil, afável, engraçado. Mas não tem grande base de apoio na Itália, onde pesa o lado político. Além disso, pode ser visto como europeu demais.
Os africanos Cardeais Turkson e Sarah são as principais apostas para um Papa africano. Ambos trabalharam em grandes dioceses e hoje ocupam cargos importantes no Vaticano. Turkson tem mais experiência pastoral, mas Sarah tem mais laços internos no Vaticano e atua nos bastidores. Porém, os dois dividiriam os votos de cardeais que apostam na África. Além disso, Turkson não teve chances ainda de mostrar se é bom governador e, quanto a Sarah, falta a certeza de que ele se daria bem com toda a publicidade que exige a missão de um Papa.
O Cardeal Dolan ganhou muito destaque nos últimos meses por causa das desavenças com o governo de Barack Obama, nos Estados Unidos, e foi o centro das atenções no últimoconsistório de cardeais. O discurso que fez diante do Papa Bento XVI sobre a “Nova Evangelização” o tornou uma estrela, segundo Allen. Ele tem um estilo de governar pouco rigoroso, mas confiante e bem-humorado. Em Roma, diz-se que ele é o primeiro americano “papabile“. Porém, Dolan nunca trabalhou no Vaticano, seu italiano não é fluente e não se sabe se ele conhece a realidade da Igreja fora do Ocidente. Dolan pode ser visto como extravagante demais para o papado.
O Arcebispo Tagle é um verdadeiro chute, pois sequer é cardeal (ainda). Isso pode mudar no ano que vem, pois ele tem ganhado bastante destaque no Oriente. Entre suas qualidades estão os fatos de ter posições fortes e saber se comunicar muito bem. Um comentarista filipino disse que Tagle tem “a mente de um teólogo, a alma de um músico e o coração de um pastor”. Porém, além de não ser cardeal, ele nunca morou em Roma e não se sabe se ele conhece a realidade do Ocidente. Tagle também pode ser jovem demais por enquanto: com apenas 54 anos, um eventual papado seu poderia durar mais de 30.
Esse é o cenário atual. Mas, com o passar do tempo, é claro que tudo pode mudar. E vale lembrar que muitos dos Papas eleitos no passado foram azarões, verdadeiras zebras. O mais recente foi um tal de Karol Wojtyła, polonês cujo nome os outros cardeais mal sabiam pronunciar direito.
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