"O justo é como árvore plantada à beira de águas correntes, perto da Fonte. Porque está plantado assim, ele dá fruto no tempo certo e suas folhas não murcham. Tudo o que faz prospera. Ele é teimosamente abençoado por Deus. A olhos vistos".

Divulgo, aqui no blog, algumas reflexões. Não são textos acabados e sempre estou aberto ao diálogo!

terça-feira, 11 de abril de 2017

O Papa da Paz no Egito de Paz!


Está programada para os dias 28 e 29 de abril próximo a visita que o papa Francisco irá fazer ao Egito.

Não sei, mas essa viagem me parece uma das mais simbólicas que um papa tenha feito (sim, houve outras). Fiquei pensando sobre... 

1. Tivemos a triste notícia, no final de semana passado, de dois terríveis atentados contra templos da Igreja Copta, nas cidades de Tanta e Alexandria. Era Domingo de Ramos e as comunidades estavam celebrando... Mais de 44 mortos e centenas de feridos... Um Domingo de Ramos marcado pelo martírio - o atentado foi reivindicado pelo ISIS. Esse atentando foi mais um de tantos outros perpetrados pelo Estado Islâmico contra cristãos ou alvos cristãos. É indiscutível que os cristãos são o grupo mais perseguido pelo mundo inteiro. Quando suas vítimas se encontram entre pessoas do Ocidente, existe um maior compadecimento, pois se julga que foi contra a liberdade, a democracia etc., que se realizou o atentado. A verdade é que os cristãos são o alvo. E não, não considero o islã como a religião "do Mal" ou que deseja acabar com os cristãos. Mas esse califado não representa o islamismo, de jeito nenhum! Aliás, não representa ninguém que se supõe esteja em busca de Deus.

A questão é que o Papa irá, justamente para esse país que está "em quarentena", mas que "acha" que irá cuidar da segurança do Papa. Muitos já alegaram a insegurança da viagem. O Vaticano, contudo, confirmou de que ela irá acontecer...


2. O nome escolhido pelo cardeal Bergoglio para o seu ministério papal me recorda uma história da vida de são Francisco, justamente no Egito e, coincidentemente, com um exército muçulmano. Transcrevo aqui a história, que retirei do site dos Franciscanos:

Em 1219, em Damieta, no Egito, confrontavam-se dois grandes exércitos: o muçulmano, comandado pelo sultão Melek-el-Kamel, e o exército cristão, comandado pelo rei de Leão e Castela. Também estava presente um representante do papa, Pelagro Galvan, um prelado da península Ibérica, mais precisamente de Portugal. Eles estavam prontos para um grande combate pela Quinta Cruzada. De um lado o Islã, do outro lado a Cruzada. Ambos motivados por um belo nome: guerra santa.
Francisco, descalço, chegou com mais três companheiros ao campo de batalha. Pediu para ir ao outro lado. O comandante cristão não permitiu. Diante da insistência de Francisco, o comandante acabou concordando, mas como quem diz: “Se ele quer ser um mártir, um suicida, que vá”.

Francisco atravessou as colunas muçulmanas e declarou na frente dos soldados: “Sou um cristão e quero falar com seu comandante, o sultão”. 

Os soldados, mesmo reconhecendo que era loucura, encantaram-se com a simplicidade desarmada daquele homem, que não vinha com lança nem escudo; vinha vestido como camponês, com uma coragem tranquila, apesar de estar do lado adversário. Melek-el-Kamel recebeu-o em sua tenda. E Francisco disse diante dele: “Eu vim falar com você sobre aquilo em que eu acredito: o Evangelho do Deus de Nosso Senhor Jesus Cristo”. E conversou longamente com o sultão, que o escutou atenciosamente – nessa hora ele não se comportou, como escreveram os cronistas do século XII e XIII, como um animal cruel. O sultão era um líder religioso. Era líder religioso de um povo monoteísta, que tem a mesma estrutura teológica do cristianismo, a mesma estrutura teológica do judaísmo e de outras grandes religiões. 

O sultão o ouviu e depois o mandou de volta, pedindo: “Reze ao seu Deus para que dê ao meu espírito a sabedoria que for melhor”. E Francisco voltou vivo e tranquilo para o outro lado.
Tenho certeza de que esta passagem da vida de são Francisco está viva na memória e no coração do papa Francisco. Não acredito que ele irá encontrar-se com algum "sultão" ou algum "califa", mas certamente irá ter conversas com autoridades islâmicas. E estou convicto de que seu espírito será de pacificação e sabedoria.

3. O logotipo da viagem é bastante significativo (veja no início do artigo). Representa a longa cultura egípcia (com as pirâmides), a cruz e a meia-lua juntas (o cristianismo e o islamismo que fazem parte da sociedade egípcia), o papa Francisco e a pomba da paz - que vai à sua frente. Diz a inscrição: "O papa da paz no Egito de paz". Todo o significado está direcionado para a paz e a sua busca. E é justamente nesse momento de incrível tensão que a paz é mais necessária. A coexistência pacífica das grandes religiões.

4. Ainda o papa da paz. É na escalada do clima de confrontações mundiais (EUA, Síria, Rússia, Irã, Coreia do Norte, China, Coreia do Sul,...) que o papa Francisco apela aos líderes mundiais para que busquem a paz e a nós cristãos que rezemos por ela. O mundo tem se defrontado com a pluralidade (que sempre existiu), mas que agora está se colocando "à nossa porta". Os meios para se lidar com a pluralidade e a diferença ainda são os mesmos de antes - violência, indiferença, marginalização etc. É urgente que mudemos as nossas atitudes e repensemos como lidar com aquilo que nos incomoda no outro. Não precisamos lidar com o outro, mas com aquele "outro" que está dentro de mim, aquele que me questiona, que me impacta.

Não sei se as pessoas estão vendo o papa Francisco assim, mas eu vejo uma das suas belas características - conviver com o "outro", amá-lo, respeitá-lo. Perceber os limites, mas saber que no amor não há limites. Nem na misericórdia...

5. Todo o cristão também tem em sua lembrança, quando se evoca o nome do Egito, da escravidão sofrida pelos nossos pais. Das dores, dos trabalhos forçados. Também do grito que foi elevado e Deus ouviu e desceu para livrar das mãos do faraó o seu Povo escolhido (Ex 3). O Egito (que tem um significado particular em hebraico - como "arapuca", "armadilha") representa a opressão sofrida, mas ao mesmo tempo a mão libertador de Deus que não se esqueceu do seu Povo. Que do Egito atual suba as vozes daqueles que têm sido presos nas "armadilhas" da violência, do extremismo, da intolerância, e haja a libertação!

6. Não poderia terminar sem falar no "3ª Segredo de Fátima". É... isso mesmo... Me peguei pensando no trecho da terceira parte do segredo que diz assim: 

Depois das duas partes que já expus, vimos ao lado esquerdo de Nossa Senhora um pouco mais alto um Anjo com uma espada de fogo em a mão esquerda; ao centilar, despedia chamas que parecia iam encendiar o mundo; mas apagavam-se com o contacto do brilho que da mão direita expedia Nossa Senhora ao seu encontro: O Anjo apontando com a mão direita para a terra, com voz forte disse: PenitênciaPenitênciaPenitência! E vimos n'uma luz emensa que é Deus: “algo semelhante a como se vêem as pessoas n'um espelho quando lhe passam por diante” um Bispo vestido de Branco “tivemos o pressentimento de que era o Santo Padre”. Varios outros Bispos, Sacerdotes, religiosos e religiosas subir uma escabrosa montanha, no cimo da qual estava uma grande Cruz de troncos toscos como se fôra de sobreiro com a casca; o Santo Padre, antes de chegar aí, atravessou uma grande cidade meia em ruínas, e meio trémulo com andar vacilante, acabrunhado de dôr e pena, ia orando pelas almas dos cadáveres que encontrava pelo caminho; chegado ao cimo do monte, prostrado de juelhos aos pés da grande Cruz foi morto por um grupo de soldados que lhe dispararam varios tiros e setas, e assim mesmo foram morrendo uns trás outros os Bispos Sacerdotes, religiosos e religiosas e varias pessoas seculares, cavalheiros e senhoras de varias classes e posições. Sob os dois braços da Cruz estavam dois Anjos cada um com um regador de cristal em a mão, n'êles recolhiam o sangue dos Martires e com êle regavam as almas que se aproximavam de Deus (Obs.: todo o trecho dos Segredos de Fátima podem ser lidos aqui, inclusive com a palavra do papa João Paulo II e a bela reflexão do então cardeal Joseph Ratzinger; Obs.2: mantive o texto na forma textual que se encontra no site).  

É, eu sei que houve uma manifestação do papa João Paulo II, à época (ano 2000) acerca da identidade de quem seria o tal "bispo vestido de branco". Seria ele mesmo no atentado que teria sofrido em 1981 que, contudo, não foi fatal. 

É importante ressaltar a autenticidade das visões e do reconhecimento da Igreja sobre elas (antes de discordar, leia o texto do cardeal Joseph Ratzinger no link que forneci, com explicações sobre Revelação Pública, revelações privadas, fenômenos místicos, interpretações antropológicas das visões, simbologia das visões etc.). Ficou "combinado com os russos" que teria sido o papa João Paulo II. A vidente Lúcia disse que quem teria a explicação seria o papa e o papa disse que foi ele. Ponto final.
Mas nem todos concordam com essa conclusão, pois na visão não fora um terrorista, mas soldados (vários) que dispararam contra o papa e contra outros membros da Igreja. E o papa teria de fato morrido. Antes disso, ele teria andado por lugares onde havia acontecido assassinatos. 

Eu não sou alarmista, nem quero ser, pois, de fato, ao final dos Segredos, o testemunho é de esperança na vitória última do Senhor. Mas não consigo deixar de associar essa visão à visita que o papa fará ao Egito. E não, não desejo que ela se cumpra. Mas acredito que no coração de Francisco também irá essa possibilidade de se oferecer pela paz. Lembro-me da palavra de Jesus em João 10,18: "ninguém me tira a vida, mas eu a dou livremente".

Com todas esses pensamentos - que não são mais do que isso, pensamentos - faço a minha prece pela paz - que aconteça aqui em casa, na minha cidade, no meu país, no mundo inteiro. Que Jesus Cristo, que é o Príncipe da Paz, estenda a sua paz a todos! Shalom!

Robert Rautmann


Fica autorizada a reprodução integral deste post, desde que citada a fonte conforme texto a seguir:
RAUTMANN, Robert. Padres casados? O que, de fato, o papa Francisco falou. Disponível em: 
http://robertccj.blogspot.com.br/2017/04/o-papa-da-paz-no-egito-de-paz.html

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