"O justo é como árvore plantada à beira de águas correntes, perto da Fonte. Porque está plantado assim, ele dá fruto no tempo certo e suas folhas não murcham. Tudo o que faz prospera. Ele é teimosamente abençoado por Deus. A olhos vistos".

Divulgo, aqui no blog, algumas reflexões. Não são textos acabados e sempre estou aberto ao diálogo!

sexta-feira, 15 de março de 2013

Francisco e La Fontaine


Devorando tudo o que está sendo postado na internet a respeito da recente eleição de Francisco, percebo que os comentários percorrem a amplitude do exagerado otimismo ("agora sim a coisa vai!) até o trágico pessimismo ("ah não, não era assim que eu queria que ele fizesse, estamos perdidos!). E, refletindo sobre isto lembrei de uma antiga fábula e queria que você a lesse novamente:

O burrico vinha trotando pela estrada.

De um lado vinha o velho, puxando o cabresto.

Do outro vinha o menino, contente, que o dia estava fresquinho e o sol brilhava no céu.
Sentados no barranco estavam dois homens.
No que viram o burro mais o velho e o menino, um cutucou o outro:
– Veja só, compadre! Que despropósito! Em vez do velho montar no burro, vem puxando ele!
O velho e o menino se olharam.
Assim que viraram na primeira curva, o velho parou o burro e montou nele.
O menino segurou o cabresto e lá se foram os três, muito satisfeitos.
Até que perto da ponte tinha uma casa com uma mulher na janela.
– Olha só, Sinhá, venha ver o desfrute! O velho no bem-bom, montado no burro, e o pobre do menino gramando a pé! 
O velho e o menino se olharam de novo.
Assim que saíram da vista da mulher, o velho desceu do burro e botou o menino na sela.
E foram andando um pouco ressabiados, o velho puxando o burro pelo cabresto, pensando no que o povo podia dizer.
Logo logo, passaram numa porteira onde estava parada uma velha mais uma menina.
– Mas que absurdo, minha gente! Um velho que nem se agüenta nas pernas andando a pé, e o guri, bem sem-vergonha, escanchado no burro!
Os dois se olharam e nem esperaram.
O velho mais que depressa montou na garupa do burro e lá se foram os três.
Dali a pouco encontraram um padre que vinha pela estrada mais o sacristão:
– Olha só, que pecado, onde é que já se viu? O pobre do burro, coitadinho, carregando dois preguiçosos! Mas isso é coisa que se faça?
O velho e o menino, desanimados, desmontaram e nem discutiram: saíram carregando o burro.
Mas nem assim o povo sossegou!
Cada vez que passavam por alguém, era só risada!
– Olha só os dois burros carregando o terceiro!
Quando chegaram em casa, o velho sentou cansado, se assoprando:
– Bem feito! — ele dizia. — Bem feito!
– Bem feito o quê, vô?
– Bem feito pra nós. Que a gente já faz muito de pensar pela
própria cabeça, e ainda quer pensar pela cabeça dos outros. Agora eu sei por que é que meu pai dizia:
Quem quer agradar a todos a si próprio não faz bem!
Pois só faz papel de burro e não agrada a ninguém!
La Fontaine

Não, Francisco não é o tipo de pessoa que irá agradar a todos, pois assim não iria agradar ninguém! Será ele mesmo. Não outro. Não como eu gostaria, não como você gostaria, mas como aquele que o Espírito Santo preparou a partir da atitude profética de Bento XVI. É esperar para ver (acho que não precisaremos esperar muito!)

Robert Rautmann, CCJ

Fica autorizada a reprodução integral deste post, desde que citada a fonte conforme texto a seguir:

RAUTMANN, Robert. Francisco e La Fontaine. Disponível em: 
http://robertccj.blogspot.com.br/2013/03/francisco-e-la-fontaine.html

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